Pintar as paredes externas do prédio é vital para sua conservação, sem contar que, ao se acertar nas cores, impacta positivamente na questão estética.
Bem mais que cobrir paredes de tinta, pintar a fachada do condomínio contribui para protegê-la e denota zelo com o patrimônio. E ainda: ao driblar-se a barreira da altura para a execução dessa tarefa, etapas que precedem a aplicação da cobertura acrílica possibilitam que se localizem e corrijam problemas na alvenaria antes que evoluam para danos maiores. Por fim, a pintura pode ser a oportunidade de romper com a monotonia visual e dar nova cor à edificação.
Tamanha é a importância de manter fachadas em ordem que na capital paulista a lei municipal 10.518/88 obriga prédios residenciais e comerciais a lavá-las ou pintá-las a cada cinco anos. Dependendo da situação, uma pintura pode ter maior vida útil. “Em alguns casos, se o condomínio fizer a lavagem a cada três ou quatro anos, consegue estender a pintura por até dez anos”, diz a arquiteta e urbanista Geórgia Ellen Zorzella Gadea, especialista em projetos de reformas e de retrofit predial.
Em contrapartida, o prazo médio para execução da pintura pode ser antecipado em algumas localidades por causa da diversidade climática do Brasil, como explica o engenheiro Will Oliveira, gerente de operações de um condomínio-clube em São Bernardo do Campo, no Grande ABC. Essa construção está próxima da Serra do Mar, região fria e úmida, condição que interferiu na durabilidade do acabamento texturizado nas torres do empreendimento.
O engenheiro relata que em menos de dois anos surgiram manchas nas paredes, com fungos verdes na parte mais baixa e fungos vermelhos na mais alta. A garantia foi acionada e a empresa realizou lavagem com hidrojateamento, tratamento e repintura das áreas comprometidas. Will pondera que isso foi possível por haver parceria com uma empresa idônea. “Antes de contratar a prestadora, é importante conhecer trabalhos que ela tenha realizado, mas também é preciso procurar saber qual é a sua conduta no pós-obra”, orienta.
Processo Seletivo
Pintura de fachada envolve riscos grandes e valor expressivo. Logo, contratar uma empresa para uma obra desse porte requer critério na seleção. É o que orienta o engenheiro Sérgio Meira de Castro Neto, diretor de Condomínios do Secovi-SP. “Dá trabalho? Dá. Mas é importantíssimo”, enfatiza.
Ele alerta que é preciso verificar se a empresa tem dívidas trabalhistas, previdenciárias e como está sua situação fiscal com a Receita Federal. “Se for necessário, a administradora do condomínio pode ajudar na verificação das certidões, não necessariamente sem custos, mas acho válido mesmo assim”, diz Sérgio. “Temos de saber muito bem quem será a nossa parceira por causa da responsabilidade solidária e subsidiária dos condomínios. Se ela deixar de pagar seus pintores, eles poderão entrar com ação contra a prestadora e também contra o condomínio”, completa.
Na escolha da empresa, pesa o tipo de vínculo empregatício que mantém com seus agentes. “Prefira quem trabalhe com engenheiros contratados a quem delega para alguém de fora a assinatura da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que é indispensável na construção civil”, fala o engenheiro Will. É viável, inclusive, que os funcionários que trabalharão no prédio também sejam próprios, na opinião de Sérgio, que emenda: “Questione se eles são contratados pela empresa, se eles possuem seguro, como é a cobertura desse seguro e se usam EPIs”.
Para que as etapas da benfeitoria fluam com maior tranquilidade, o escopo da obra ‘não pode deixar brechas’, diz Will. “O gradil da sacada faz parte da fachada, mas o contratante não deve apenas supor que a contratada irá realizar a pintura. E se ela não quiser pintar quando chegar o momento, alegando que não estava no orçamento? Vai gerar um aditivo financeiro para o condomínio”.
Por essas e outras, Sérgio e Will indicam buscar uma consultoria de engenharia para equalizar propostas orçamentárias. Com a análise técnica de especialistas, síndicos e conselheiros conseguirão comparar de forma mais efetiva orçamentos que parecem iguais, mas que no fundo embutem diferenças as quais podem resultar em custos altíssimos para o condomínio em determinado estágio da obra.
Seja prudente
O profissional do Secovi tem uma dica interessante sobre pagamento: acha prudente fazê-lo de modo parcelado. “Empresas melhor estruturadas conseguem parcelar com prazo de um a dois anos para pagar uma obra que, por exemplo, vai levar de três a seis meses. O condomínio terá o serviço concluído e ainda estará devendo, o que é uma boa estratégia porque se houver problema na pintura e a empresa não quiser voltar para arrumar, o síndico tem condição de suspender o pagamento até que retorne”. Se a contratante preferir parcelamento curto, Sérgio sugere deixar um saldo de 20 a 30% do valor total para ser quitado na entrega do serviço.
Evitar inconveniências está na pauta de quem adere às obras, e uma medida cautelosa é que o próprio condomínio compre o material de pintura. “O síndico tem a garantia de que as latas de tinta que ele comprou em determinada loja serão entregues no prédio. É um cuidado que vale a pena”. Além disso, a atitude gera economia ao evitar a bitributação na aquisição das tintas.
Mudança de tom
Estudo de cores para a fachada do Edifício Promenade
Se for da vontade do condomínio modificar a tonalidade da fachada, vale lembrar que a mudança pede aprovação em assembleia, mas dispensa unanimidade. “As jurisprudências mais modernas dão conta que, com o apoio de dois terços dos condôminos, se consegue aprovar essa alteração”, diz Sérgio. Aqui também vale, segundo ele, contar com uma consultoria especializada: “Tem um custo, mas é importante. Imagina só iniciar uma obra, comprar as tintas, e os moradores não aprovarem o resultado”.
No Edifício Promenade, nos Jardins, área nobre da capital paulista, os condôminos queriam dar um novo tom à edificação erguida nos anos 1970. Contrataram o arquiteto Francisco Duarte para elaborar um estudo de cores. O profissional forneceu três opções de acabamento para votação. A vencedora foi uma composição envolvendo três tons de cinza mais um de off -white.
“Antes do estudo, os moradores tinham pensado em usar uma cor clarinha, e se continuassem por aquele caminho o resultado final mais pareceria uma limpeza da torre do que uma pintura”, diz Franciso. “Já as janelas arquitetônicas, claras, teriam desaparecido no conjunto”, observa. Graças à interferência da consultoria, a fachada foi revigorada. Seus novos tons remetem à arquitetura brutalista da época original e não ofuscam a arte que pavimenta o entorno do térreo: um mosaico em pedras portuguesas assinado pelo paisagista Roberto Burle Marx.
Para a arquiteta e urbanista Geórgia, o condomínio que contrata um estudo de cores só tem a ganhar. O custo representa de 1 a 2% do valor da obra e traz acertos que vão além da estética. “Se uma fachada de face norte estiver pintada de cor escura e receber forte incidência solar, a parede esquenta demais. Quando a alvenaria aquece, ela dilata; quando esfria, retrai. Com o tempo esse movimento causa fissuras que podem acarretar infiltrações”.
Georgia conta que em ambiente urbano gosta de usar bege, cinza e off -white nas fachadas. Evita o branco em toda a extensão, pela sujidade em potencial, aplicando-o em detalhes. Reserva para estes também as cores mais fortes, que podem estar presentes numa viga ou num pórtico. A consultora chama a atenção para se considerar as tonalidades das construções da vizinhança antes de escolher cores para o prédio porque é interessante que o condomínio se harmonize com o contexto em que está inserido. “O nosso olhar tende a gostar mais das coisas que combinam”, pontua Geórgia.
Qual cor escolher?
Para condomínios que desejam adotar uma nova tonalidade na fachada, a arquiteta e urbanista Geórgia Ellen Zorzella Gadea, dá DEZ dicas de como conquistar um resultado harmônico e mais duradouro. Confira:
- Off -white, bege ou cinza em suas várias nuances conferem cobertura suave, que requer menos manutenção do que uma fachada branca, por exemplo. Esses são tons bastante adotados em São Paulo, principalmente nos condomínios-clube, que têm prevalência do estilo neoclássico.
- O branco é desaconselhável nos prédios da capital paulista porque nos grandes centros urbanos tem de se considerar fatores que impactam na durabilidade da pintura, tais como poluição, chuva ácida e muita poeira.
- O grupo do cinza, por ser mais frio, combina com edificações de traços modernos e permite trabalhar contrastes na pintura. Um exemplo é optar pelo cinza- escuro e, aí sim, entrar com o branco em algum detalhe da construção, ou até com um colorido vibrante.
- Vermelho chama a atenção, sendo recomendado para prédios comerciais que desejam usá-lo para se destacar na vizinhança, no melhor estilo ‘ponto de referência’. Já nos residenciais da cidade, mais neutros, existe o risco de chocar em vez de agradar.
- Azul-escuro, assim como vermelho, é outra tonalidade que destoa na cena paulista. E mais: as duas são cores vivas e a chance de errar com elas é grande, até porque desbotam muito fácil com as intempéries.
- Amarelo mais claro, laranja, areia e off -white são tonalidades aquecidas, que passam noção de aconchego por estarem presentes na natureza, então, dialogam com edificações de muita área verde. Combinam com detalhes arquitetônicos em madeira, pedras naturais e tijolos.
- Cinza na fachada, mesmo sendo uma cor fria, faz dupla com a vegetação em verde-escuro, desde que esse seja a única aposta do paisagismo. Entretanto, se as plantas tiverem nuances mistas, melhor fechar com as cores quentes.
- Cores compostas são bem-vindas numa mesma torre quando se pretende melhorar o conforto térmico na face norte da edificação e contornar o frio e a umidade resultantes de menor incidência solar na face sul.
- Pode-se pintar a face norte com tonalidades mais claras, como branca, bege e palha, pois não absorvem calor e, a face sul, com tons mais fortes, como cinza escuro, avermelhados e até preto em alguns casos, justamente pelo efeito contrário.
- Tons terrosos são propícios para fachadas de condomínios no campo, especialmente no interior paulista, uma região em que há muita poeira vermelha. Essa tática de camuflagem reduz a quantidade de lavagens.
Janela sem atrito
Esquadrias podem realçar ou comprometer o resultado da pintura da parede externa de um prédio. Se for o caso de o edifício ganhar nova nuance, ou até mesmo de a janela ser pintada, deve-se atentar para a harmonização em prol de melhor adequação estética. Veja as sugestões de Geórgia.
- Se a condição da janela não estiver boa, será preciso ‘ocultar’ o aspecto feio e desgastado uniformizando parede e esquadria com nuance semelhante.
- Se as esquadrias, por outro lado, forem muito bonitas, pode-se destacá-las ao pintar a fachada com tonalidade oposta; em guarnição clara, escurece-se a parede e vice-versa.
- Fachadas com janelas coloridas pedem parede neutra. Porém, se as esquadrias forem brancas, pretas ou na cor natural do alumínio, será possível utilizar maior variedade de tons.
- Janelas de alumínio marrom ficam harmônicas em paredes com cores quentes, como beges, palha e laranja.
- Esquadrias de alumínio natural conversam com paredes revestidas pela gama de cinzas ou pela família do off-white.
- Janelas pretas ficam bem alinhadas com fachadas cobertas de tons de cinza, branco e off-white.
- Nas esquadrias brancas, está liberada a livre escolha, mas vale destacar que em paredes de tonalidades escurecidas, vai compor um efeito visual remetendo à forma quadriculada.
- Quando houver abundância de janelas, ou seja, se quase cobrirem toda a fachada, a pedida é ‘brincar’ trazendo um colorido à edificação, recurso explorado pela arquitetura moderna do século passado. Sobre uma base de fundo neutro, como o concreto de vigas, por exemplo, é aceitável misturar cores que não brigam. Vale usar laranja e amarelo, ou pintá-la alternadamente com verde-escuro, vermelho e branco, como nas venezianas do icônico Edifício Lausanne, em Higienópolis, projetado por Adolf Franz Heep em 1958.
Matéria publicada na edição – 278 – mai/2022 da Revista Direcional Condomínios
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