Zelador: Como adequar o perfil profissional às demandas da atualidade

O zelador de hoje está bem distante do zelador de ontem. Às voltas com instalações cada vez mais diversificadas e sofisticadas, a saída é se capacitar para não perder espaço no mercado condominial.

Talvez você se recorde dos tempos em que o zelador, cujo dia é comemorado em 11/02, era um funcionário herdado da construtora do empreendimento, aquele que se destacou durante a construção e galgou o posto na entrega do prédio. Ou ainda aquele senhor sem grandes qualificações profissionais, às vezes já aposentado, porém habilidoso em pequenas manutenções e que almejava o posto principalmente por oferecer moradia.

Os dois exemplos estão extintos. Poucos prédios, geralmente aqueles com pequeno número de unidades e com moradores idosos, ainda preferem o antigo zelador, do tipo faz tudo. Marcos Moreno, diretor de prevenção e segurança da Abrascond (Associação Brasileira de Síndicos Profissionais de Condomínios) e instrutor de vários cursos da entidade, aponta que o perfil do zelador mudou muito. “O zelador era uma babá no condomínio, cuidava até mesmo dos filhos dos moradores e era pau para toda obra, colocava a mão na massa, na tinta, na graxa. Esse tipo de atuação inclusive pode gerar problemas trabalhistas para o condomínio, por acúmulo e desvio de função. Ele pinta ou faz reparos, o que não é função do zelador”, aponta Moreno.

Exigências de mercado

Para a síndica profissional Vera Quaresma, engenheira civil, pós- -graduada em Administração, o perfil antigo do zelador era o de uma pessoa menos capacitada do que é hoje. “Com prédios cada vez mais automatizados, a exigência é de um profissional com conhecimento maior de várias técnicas e práticas. O zelador são os olhos do síndico nos condomínios. Se ele não atuar bem, é como se eu estivesse de olhos fechados, e claro que não farei um bom trabalho”, constata.

Em um dos condomínios que administra, com 22 unidades de alto padrão, localizado na Vila Nova Conceição, Vera trabalha com o gerente predial Paulo Alves dos Santos. Quando começou sua carreira, Paulo viveu o dia a dia do zelador que ele chama de “mexânico”: “Era um prédio com dificuldades de caixa, onde eu fazia até jardinagem. Passei a conhecer o funcionamento de bombas, aprendi a trocar sensores, enfim, queria crescer profissionalmente.”

Há seis anos no prédio da Vila Nova, Paulo se adaptou a uma nova realidade, onde não faz mais manutenção. Lida com os prestadores de serviços que mantêm os sistemas do edifício em ordem, gerencia conflitos, trabalha de terno e gravata e, de sua sala, se comunica com a administradora, envia documentos, tudo pelo computador. “Hoje não há mais malote, tudo é informatizado. Temos que nos reinventar a cada dia. Faço muitos cursos, vou a palestras e leio muito, principalmente sobre conflitos em condomínios”, pondera Paulo, ressaltando a importância de ter uma equipe de funcionários comprometidos e uma parceria positiva com a síndica para o sucesso do trabalho.

Na opinião de Sérgio Meira, diretor de condomínios do Secovi-SP, o zelador atual precisa ter a visão geral de um gestor predial. Sérgio se recorda que por muitos anos deu a palestra final do curso de zeladoria da entidade e afirmava que o zelador que não se atualiza está começando o seu final de carreira. “Hoje estão chegando ao mercado pessoas com uma bagagem de formação profissional grande, porém com menos experiência de trabalho, mas que estão se destacando do zelador antigo”, aponta.

Reforço na formação

Os cursos de formação profissional da área condominial estão acompanhando a evolução da categoria, comenta Sergio. O curso de zeladoria do Secovi era focado na parte técnica, com aulas de engenheiros elétrico e civil e de manutenção de piscinas, por exemplo. “O curso privilegiava o primeiro atendimento do zelador na parte técnica. Hoje essa necessidade mudou muito, os condomínios têm contratos de manutenção para cada sistema. O zelador precisa muito mais do que noções básicas de elevador, hidráulica e elétrica”, diz. Tanto que atualmente Sergio Meira recomenda o curso de administração de condomínios do Secovi também para zeladores, que dá uma visão geral do que é a gestão condominial, abrangendo finanças, manutenção, relações interpessoais, área jurídica e de recursos humanos, segurança patrimonial, entre outras.

Marcos Moreno, da Abrascond, concorda com a ampliação da formação do zelador. “Surgiram empreendimentos mais robustos, que exigem profissionais mais qualificados. Houve uma profissionalização do trabalho do zelador. Ele não vai colocar a mão na massa, mas atuar como um gestor. E surgiram as figuras do gerente predial e do manutencista, ou auxiliar de manutenção”, diz. A composição da equipe varia muito conforme o tamanho e as necessidades do condomínio, avalia Moreno. Ele acredita que o zelador atualizado auxilia muito o síndico, até mesmo identificando situações que devem ser corrigidas. Ele lembra do zelador de um condomínio que tinha contrato de manutenção de elevador sem peças. “Ele notava que todos os meses o condomínio gastava com a troca de peças. Conheceu a empresa de manutenção de elevadores do prédio vizinho e, com autorização do síndico, solicitou um orçamento. O síndico conseguiu um preço mais baixo, com peças, e trocou de fornecedor. Isso não significa que o menor preço seja sempre melhor. Mas o zelador estava alerta para o que o condomínio precisava”, pontua Moreno.

Sergio Meira lembra ainda de empreendimentos novíssimos que estão surgindo em São Paulo, mistos, com apartamentos grandes e também pequenos, do tipo estúdio, e fachada ativa com lojas no térreo. “Esse balaio de gato é difícil de gerir. Além disso, a grande maioria não tem apartamento para moradia do zelador. Esse é outro grande debate atualmente, se é importante ou não o zelador residir no prédio. Eu sou da velha guarda, acho que o zelador é o link entre os moradores, os prestadores de serviços e a administradora, e é o primeiro a ser acionado numa emergência”, opina Meira.

Mais do que morar no condomínio, há quem aponte características do zelador que são essenciais para ocupar o posto. A síndica Vera Quaresma cita a capacidade de liderança, para obter um melhor resultado da equipe. Carlos Alberto Campos Negrette. consultor da AABIC, especializado em Administração de Recursos Humanos, Comportamento Organizacional, Gestão e Planejamento Empresarial, aponta a paciência como um dos elementos fortes do zelador: “Enumero ainda a experiência com tecnologia e a facilidade de comunicação com a equipe e condôminos.” Sérgio Meira arremata com outro ponto importante: “O zelador sabe de tudo no prédio, mas não pode ser fofoqueiro, o popular leva e traz. Não deve colocar fogo na fogueira, mas diminuir os atritos.”


Matéria publicada na edição 297 fev/24 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Luiza Oliva

    Jornalista com larga experiência em reportagens e edição de revistas segmentadas. Editora do site e Instagram O melhor lugar do mundo, voltado à decoração, arquitetura e design. Editora da Panamby Magazine, publicação dirigida aos moradores do bairro do Panamby, região do Morumbi, em São Paulo. Desde 2005 também atua na área da educação, com publicações especializadas e cursos para formação de professores.