Quando pessoas se unem para o bem comum, é possível transformar realidades – Edson Lopes

Edson Lopes, 53 anos: condomínio-modelo e recuperação de entorno degradado

Nasci em Ibiporã, uma cidade pequena no norte do Paraná. Meu pai era chefe de expedição em uma fábrica de óleo, mas foi desligado por ocasião de redução de custo e buscou trabalho em São Paulo, conseguindo recolocação na Companhia dos Refinadores União – Açúcar e Café. Alugou uma casa na Penha, zona leste da cidade, e mandou buscar a esposa e os filhos. Eu tinha 6 anos e, assim como minha irmã mais velha, adorei o novo emprego do meu pai, porque a União presenteava os filhos dos funcionários no Dia das Crianças com brinquedos e guloseimas – e que criança não gosta de doces?

Nas férias escolares, íamos para o Paraná. Meus avós paternos eram agricultores, plantavam café, milho e algodão. Meus tios tiravam leite de cabra na hora e me davam em canecas – recordo esse sabor como algo especial. Havia animais de criação, um grande paiol e um riacho. Tive uma infância cheia de aventuras. Aos 13 anos, fui trabalhar em um mercadinho local e, depois, em uma floricultura. O comércio foi positivo na minha vida. Além de receber dinheiro para comprar minhas coisas, como roupas e bicicleta, aprendi a gostar de lidar com pessoas.

No colégio, fiz curso técnico de Telecomunicações e, depois de alguns anos trabalhando na área, decidi seguir minha paixão por esportes e me formei em Educação Física. Mais à frente, quando passei a atender como personal trainer, especializei-me em Nutrição para orientar meus clientes com mais segurança e embasamento sobre questões relacionadas à alimentação.

Fui professor de Educação Física durante 17 anos, período em que convivi com alunos de diferentes faixas etárias, pais e diretores de escola, o que ajudou a desenvolver minha capacidade de relacionamento, algo fundamental para o que viria depois: a sindicatura. Trabalhei como educador físico no Sesc, em colégios e academias. Em 2002, em uma academia de Higienópolis, conheci uma aluna, a Bethânia, que viria a ser minha esposa. Ela é dentista e tem um perfil mais reservado, ao contrário de mim, que sou extrovertido. O jeito quietinho dela me chamou a atenção, e eu a instigava a falar comigo. Nos completamos, estamos juntos há 23 anos, temos nossa filha Victória, hoje com 17 anos, e nossos pets: Januário, Bella e Malaquias.

Em 2012, adquirimos um imóvel no Home Station, um condomínio com duas torres, 252 unidades, jardins e estrutura de lazer que inclui piscina coberta, localizado na Barra Funda, zona oeste da cidade. Já na primeira assembleia, descobrimos que o condomínio, apesar de novo, enfrentava diversos desafios, como o caixa deficitário. Por ‘pressão’ da minha esposa, tornei-me conselheiro, com a intenção de tentar ‘salvar’ nosso patrimônio. Fiz três cursos de formação em sindicatura para compreender melhor a administração condominial e contribuir de forma mais efetiva com a gestão da época. Atuei como subsíndico e, ao término do mandato do síndico, fui convidado a assumir como síndico profissional.

Estou no meu quarto mandato no Home Station e atribuo à continuidade da gestão a possibilidade de realizar importantes obras de manutenção e melhorias. Mesmo quem discorda da minha condução reconhece o respeito com que os recursos coletivos são administrados. Ser síndico, para mim, é transformar espaços e contribuir para o amadurecimento das pessoas, tornando-as mais tolerantes, colaborativas e conscientes do coletivo. Quando as pessoas evoluem, o ambiente naturalmente se torna mais harmonioso. Um reflexo disso, que enche de orgulho a mim e aos moradores, é o fato de o condomínio ter se tornado referência em limpeza, conservação e inovação para alunos do curso de síndico profissional do Senac da região. Tudo começou quando uma professora, em visita a um amigo no condomínio, gostou do que viu e nos pediu autorização para realizar visitações guiadas com suas turmas, o que já acontece há dois anos.

Esforço coletivo trouxe mais segurança à passarela local e limpeza ao seu entorno; nas fotos, o antes e depois da ação.

Sou muito inquieto, e essa inquietude me faz colocar as coisas em movimento. Dessa forma, conseguimos transformar uma área degradada em frente ao condomínio. A situação era perigosa: a rua estava escura e, como do lado oposto ao prédio há um muro de 110 metros de comprimento, pertencente à CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), o ambiente era propício para o consumo de drogas, descarte de lixo e outras atividades criminosas. Mobilizei condôminos, o comércio local e prestadores de serviço do condomínio para revertermos esse cenário. Pintamos o muro, instalamos 20 postes para melhorar a iluminação dos canteiros ao longo do muro, replantamos os jardins e contratamos segurança privada. Agora, moradores passeiam à noite com seus pets. A intervenção foi tão bem-sucedida que até condomínios e empresas replicaram a iniciativa em trechos próximos da rua.

Antes e depois da revitalização – Jardinagem e iluminação renovadas

No ano passado, com o apoio de outros condomínios, comércios e empresas, tomei a frente da revitalização de uma passarela de pedestres localizada a poucos metros do Home Station, que facilita a travessia sobre a linha do trem. As extremidades estavam tomadas por lixo, escuridão, roedores e usuários de drogas e, no topo, assaltantes de moto agiam com frequência. Fizemos uma intervenção: revitalizamos o local com pintura, reforçamos a iluminação e a segurança, e instalamos barreiras para impedir o acesso de motos e carroceiros. A prefeitura realiza a lavagem semanalmente, mas a limpeza diária e a segurança privada são custeadas por moradores do entorno e parceiros. Essa experiência reforça minha convicção de que, quando as pessoas se unem em torno do bem comum, é possível transformar realidades e construir ambientes mais seguros e acolhedores para todos.

Matéria publicada na edição 313 jul/25 da Revista Direcional Condomínios

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