“A sindicatura foi a virada da minha vida profissional” – Sylvio Levy

Sylvio Levy, 56 anos: da engenharia civil à gestão de condomínios

“Meus pais nasceram no Cairo, são judeus sefaraditas, de etnia originária da Península Ibérica. Vieram para o Brasil em 1957, expulsos do Egito pelo Governo Nasser, que baniu o povo judeu e confiscou seus bens. Minha família materna e paterna chegou ao Rio de Janeiro com uma mão na frente e outra atrás. Meus pais haviam estudado em escola bilingue; além do árabe, falavam inglês e tinham o francês como língua materna, o que os ajudou no mercado de trabalho. Minha mãe, com 16 anos na ocasião, se tornou secretária bilingue de uma companhia aérea no Galeão. O meu pai, que fez engenharia por correspondência através do consulado inglês no Cairo, estava com 22 anos e conseguiu emprego numa multinacional americana. Eles se conheceram no Rio, casaram e tiveram três filhos: Rafael, eu e o Alberto.

Meus irmãos e eu crescemos praticando esportes em um clube da Lagoa, bairro em que morávamos. Nós íamos bem no tênis e, posteriormente, no squash. Eu também era atleta, nadava pelo Flamengo. Vivi no Rio com liberdade. Ia de bicicleta para a escola e para o curso de inglês. Aos 10 anos, vendia gibis usados e refrescos na calçada. Aos 12, eu pegava ônibus sozinho para encontrar meus amigos de bairros próximos e voltava de noite. Em 1985, mudamos do Rio para São Paulo porque meu pai havia sido contratado por uma multinacional francesa. Sofri muito ao deixar meus amigos de infância. Passei a me comunicar com eles por carta porque telefonema custava uma fortuna. Somos amigos até hoje.

Cursei engenharia civil na FAAP e no meu primeiro estágio, aos 18 anos, acompanhei a construção de um prédio no Itaim Bibi. Fiquei fascinado ao saber que uma das unidades teria lavatório de ouro. Coisa ridícula (risos!). Queria morar naquele prédio um dia e coloquei uma moeda entre os tijolos para me dar sorte na realização desse desejo. Nunca morei, mas por coincidência virei síndico de lá.

Quando me formei, trabalhei como engenheiro de manutenção no Parque Anhembi e, em 1996, ocorreu um acidente no meu plantão, no salão do automóvel. O mezanino do estande de uma montadora alemã desabou e houve feridos. Eu não participava da montagem das feiras, mesmo assim esse acontecimento me impactou, me deixou muito reflexivo sobre o significado da responsabilidade na engenharia. Hoje faço um paralelo com a sindicatura. Não é qualquer um que pode ser síndico, é necessário ter qualificação porque as responsabilidades são muitas, mas nem todos parecem ligar para isso, incluindo os contratantes.

Em 1998 me casei com a Karina. Somando o período de namoro, noivado e casamento, estamos juntos há 33 anos. Em 2000 e 2002 ganhamos nossas princesas Gabriela e Rafaela, o que tornou nossas vidas mais completas.

Trabalhei 20 anos na construção civil, na Atlântica-Cibracon e na Even. Morei em alguns dos prédios que construí e sempre colaborei para a boa manutenção do patrimônio. Por causa desse zelo fui alçado em 2012 a síndico morador em um condomínio na Vila Mariana, que não foi construído por mim. Não moro mais lá, mas continuo como síndico, estou no 13º mandato anual.

Na década de 1990, eu trabalhava nas minhas férias como guia turístico em excursões para a Florida, nos Estados Unidos. Isso foi fantástico pois me trouxe um grande amadurecimento, crescimento e renda extra. Em 2005, com filhas de 3 e 5 anos, implantei viagens da Disney para uma empresa de formaturas, e fui guia turístico do pacote de estreia. No dia da viagem, fui arrumar minha mala e encontrei as meninas lá dentro, usando minhas camisetas de guia. Isso me emociona muito porque nessa fase eu ainda não tinha condições de levá-las à Disney. Os parques sempre foram muito caros. Algum tempo depois, minha esposa e eu levamos as meninas para ver o Mickey.

“Não é qualquer um que pode ser síndico, é necessário ter qualificação porque as responsabilidades são muitas, mas nem todos parecem ligar para isso, incluindo os contratantes”

Enquanto engenheiro, o meu ponto alto foi a condução do Plaza Mayor Ipiranga, um condomínio-clube monumental da Even. Pela complexidade do projeto, havia um prognóstico oficial de que ocorreriam duas mortes. No pico da construção, cheguei a ter 720 colaboradores no meu canteiro de obras e, graças a Deus, não houve acidentes graves. Trabalhei depois no corporativo da Even. Também atuei como síndico executivo de condomínios com unidades em estoque. Em fevereiro de 2016, durante uma crise no setor, fui demitido. Eu tinha 47 anos, era o mais velho de centenas de funcionários, e acredito que isso também influenciou na demissão. Ao me desligar, a empregadora, na pessoa do então copresidente, me sugeriu montar uma empresa de sindicatura profissional, pois logo teria condomínios novos para mim.

Àquela época, porém, na minha cabeça eu acreditava que conseguiria uma recolocação no mercado da construção. Um dia, caminhando às 6h da manhã no Ibirapuera, recebi um sinal para fazer a transição de carreira. Na véspera, a Even tinha me procurado para saber se eu havia aberto a empresa, mas eu continuava relutante. Pois eis que ocorreu uma cena improvável para um parque: um rabino de barba longa e terno fazendo caminhada. Era um velho conhecido, faço trabalho voluntário para a instituição dele. Contei sobre o desemprego e a oferta na sindicatura. Ele me fez enxergar que havia lugar para mim nos condomínios, não mais na construção, mas na gestão. De fato, a sindicatura foi a solução e virada da minha vida profissional. Hoje é minha paixão e o meu sustento. A minha experiência na construção civil, além de meu passado como síndico executivo, me permitiu desenvolver uma visão ampla e detalhada dos condomínios, o que é essencial para uma gestão eficaz.

Minha empresa completou nove anos. Fora a Even, que me indicou os primeiros condomínios, passei a receber indicações de outras construtoras, e de administradoras. Hoje são cerca de 30 condomínios na carteira, sendo que oito deles eu atendo sozinho. Tenho uma equipe sênior maravilhosa, com dez prepostos comprometidos com o trabalho, a maioria deles formada por mim. O foco da empresa são condomínios de médio a altíssimo padrão, residenciais, comerciais e mistos, e trabalhamos muito com implantações. Nos últimos anos, o mercado imobiliário tem lançado empreendimentos que reúnem unidades residenciais com NRs, unidades não residenciais. Na maioria das vezes, unidade NR é para aluguel de curta temporada. Construção com esse perfil exige outra dinâmica de gestão. Sindicatura é isso mesmo, mutável e desafiadora, por isso temos de estar sempre bem preparados.”

Sylvio Levy, em depoimento concedido a Isabel Ribeiro

Matéria publicada na edição 311 mai/25 da Revista Direcional Condomínios

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