Quando o síndico profissional “arruma a casa” e precisa se despedir

Homem carregando uma caixa com os seus pertences

É cada vez mais comum que condomínios, em momentos de crise administrativa ou estrutural, optem por contratar um síndico profissional. Geralmente, esse profissional chega em um cenário desafiador: contas atrasadas, manutenções negligenciadas, obras urgentes e conflitos mal administrados. Com técnica, organização e imparcialidade, ele assume a responsabilidade de “arrumar a casa”: renegocia contratos, coloca em ordem a documentação, implanta rotinas de manutenção e abre espaço para melhorias que valorizam o patrimônio coletivo.

Mas, depois desse trabalho árduo, muitos síndicos profissionais se deparam com uma situação delicada: são dispensados para que o condomínio volte ao modelo de síndico morador ou, então, para que os condôminos “testem” outro síndico profissional. A justificativa mais recorrente é a proximidade — a ideia de que quem mora no condomínio terá mais disponibilidade para atender diariamente os vizinhos.

Nessas horas, é natural que o síndico sinta frustração. Afinal, muito do que foi feito dificilmente seria possível sem o olhar técnico e imparcial que o profissional trouxe. Porém, é justamente nesses momentos que entra em cena a postura madura que se espera de um gestor: compreender que a decisão é soberana da assembleia e que o seu trabalho não foi em vão.

O síndico deve enxergar sua gestão como um ciclo de contribuição. Se a missão foi recuperar financeiramente o condomínio, entregar manutenções essenciais e criar bases sólidas de gestão, essa é uma vitória. O legado permanece — seja no patrimônio valorizado, seja nos processos implantados. Mais cedo ou mais tarde, os condôminos percebem a diferença entre uma gestão amadora e uma gestão técnica, e isso abre portas para novas oportunidades.

O caminho, portanto, é manter a elegância: entregar um relatório final completo, deixar os processos bem documentados, reforçar o que foi conquistado e desejar sucesso ao próximo gestor. A boa reputação no mercado se constrói também nesses momentos de transição.

Aos síndicos profissionais, fica a lição: nem sempre a permanência será longa, mas o valor do trabalho bem feito nunca se perde. E aos condomínios, a reflexão: administrar um empreendimento complexo não é apenas “estar presente”, é saber gerir com técnica, ética e visão de futuro.

Autor

  • Amanda Accioli

    Síndica profissional e advogada; diretora nacional da sindicatura na ANACON (Associação Nacional da Advocacia Condominial). Mais informações: amandaaccioli.adv@gmail.com