Muito utilizada na área de Recursos Humanos, essa ferramenta pode ajudar síndicos a conhecerem as necessidades dos moradores
e motivar a participação na gestão.
Ricardo Conceição é administrador, contador e pedagogo. Com larga vivência profissional em Recursos Humanos e como assessor de síndicos, é autor do livro “Vivendo bem em condomínio – a pirâmide das necessidades do morador”, cujo objetivo é ensinar as pessoas a viver em comunidade. “Na verdade, já vivemos bem em condomínio, mas estragamos tudo”, lamenta.
Ele se recorda da infância e adolescência passadas em um condomínio no bairro do Paraíso, onde seu pai era zelador. Mesmo sem área de lazer, havia ótima convivência entre os moradores. “A portaria era o ponto de encontro. Todos que chegavam paravam por lá para conversar. Hoje, as áreas comuns viram pontos de conflito”, compara. Ele acredita que é necessário um trabalho de reeducação no mundo condominial. “Falta respeito e amizade, e sobra intolerância”, aponta. Para ele, o síndico é pressionado por inúmeras responsabilidades, enquanto falta conhecimento aos moradores. Diante desses desafios, no seu livro, Ricardo decidiu transformar a Pirâmide de Maslow em um instrumento de gestão para o síndico.

A Pirâmide de Maslow, criada pelo psicólogo Abraham Maslow e muito utilizada como ferramenta de Recursos Humanos para motivar e avaliar quadros de funcionários, organiza as necessidades humanas em cinco níveis, de baixo para cima: fisiológicas, segurança, sociais, estima e autorrealização. “Na minha Pirâmide das Necessidades dos Moradores, adapto esse conceito para a vida em condomínios, com três níveis: Necessidades Administrativas (base) – gestão financeira, manutenção e segurança; Necessidades Sociais (meio) – semelhantes às sociais de Maslow, envolvem convivência, diálogo e laços entre vizinhos, para criar um senso de comunidade; e Necessidades de Desenvolvimento Pessoal (topo) – focam em educação, liderança e inovação, incentivando os moradores a crescerem e transformarem o condomínio”, diz.
Para avaliar as necessidades dos moradores, o síndico tem algumas ferramentas, acredita Ricardo, como fazer plantões para atendê-los ou esclarecer dúvidas sobre a pauta da assembleia antes da reunião. Enfim, informar os condôminos. “Seja através de circulares, aplicativos, WhatsApp, é preciso bombardear o morador de conhecimento. Esclarecer sobre o trabalho do síndico e motivar o pessoal a participar”.
Fábio Interaminense, engenheiro eletrônico, especializado em marketing, vendas e psicologia, ex-executivo de empresas nacionais e internacionais, é síndico morador há sete anos de um condomínio na zona oeste de São Paulo, construído há cerca de 45 anos. Para atender bem à sua comunidade e também visando ajudar síndicos em suas gestões, Fábio criou a metodologia VIVER, baseada na Pirâmide de Maslow. O objetivo, explica, é transformar a forma como o síndico se comunica, como lida com reclamações, como conduz uma assembleia e até mesmo como planeja melhorias na gestão.
De forma prática, Fábio enumera os pontos que podem ser desenvolvidos pelo síndico em cada degrau da Pirâmide de Maslow:
- Necessidades básicas e de segurança: garantir serviços essenciais, como água, energia, gás e saneamento; oferecer espaços de convivência minimamente confortáveis e prevenir problemas estruturais;
- Necessidades sociais: ajudar as pessoas a pertencerem ao grupo, criar um senso de comunidade, facilitar a comunicação entre moradores, promover a inclusão e estimular o voluntariado;
- Necessidades de estima: criar canais de escuta ativa, valorizar boas práticas, garantir transparência na gestão e estimular a participação dos moradores nas decisões, por meio de comitês, por exemplo;
- Necessidades de autorrealização: criar projetos sustentáveis, promover atividades educativas, incentivar o protagonismo dos moradores e manter o espírito colaborativo, favorecendo para que todos se sintam parte de algo maior e ajudem a transformar o condomínio.
“Essa teoria nos ajuda a entender o comportamento das pessoas, as motivações por trás de suas atitudes e até mesmo os conflitos que surgem no ambiente condominial”, constata. “O síndico deixa de ser apenas um gestor de problemas e passa a ser um líder comunitário”, completa.
Ao ser eleito síndico, Fábio tomou inicialmente três atitudes. Primeiro, mostrou disponibilidade, recebendo os moradores às terças e quintas, das 19h às 21h30, mediante agendamento. “Com isso parou o zum-zum-zum: abri a agenda, e quem não desceu não se viu no direito de reclamar.” Outra iniciativa foi a transparência, divulgando todas as aquisições, obras e serviços. E, depois, cuidou ainda melhor dos funcionários, com conversas, novos uniformes, reforma do banheiro e aquisição de equipamentos para a copa.
Com essas atitudes, boa comunicação e engajamento dos condôminos, Fábio conseguiu promover melhorias como a construção de uma nova guarita blindada, nova calçada, implantação de coleta seletiva e pet place, entre outras. O condomínio organiza festas animadas e colaborativas, inclusive uma só para os funcionários no final do ano. “Criamos um sentimento de comunidade”.
Um exemplo da união aconteceu durante a pandemia. A festa junina era tradição no condomínio e Fábio não pensou em desistir da comemoração. Enviou para cada morador um kit com paçoca, milho e bandeirolas, convidando todos a enfeitarem suas janelas e avisando que, na noite de São João, teriam uma surpresa. “Contratei um trio de forró. Eu e minha esposa descemos vestidos à caráter, e foi emocionante ver os apartamentos enfeitados e todos dançando das varandas. Brinquei que fizemos a maior quadrilha vertical do mundo. Acredito que o grande propósito do síndico deve ser o de se dispor em prol do coletivo, colocando o altruísmo em primeiro lugar. A partir daí a criatividade, a liderança e a boa comunicação surgem para engajar e motivar os moradores.”


Agradecimentos aos entrevistados: Ricardo Conceição (à esq.)
e Fábio Interaminense
Matéria publicada na edição 312 jun/25 da Revista Direcional Condomínios
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Jornalista com larga experiência em reportagens e edição de revistas segmentadas. Editora do site e Instagram O melhor lugar do mundo, voltado à decoração, arquitetura e design. Editora da Panamby Magazine, publicação dirigida aos moradores do bairro do Panamby, região do Morumbi, em São Paulo. Desde 2005 também atua na área da educação, com publicações especializadas e cursos para formação de professores.