Padrões estranhos em condomínio? Temos. E como!

CondoCausos

“Ingressei na sindicatura em belo horizonte há 13 anos; depois, vim para são paulo administrar condomínios. em ambas as cidades, lidei com situações peculiares.

Glauber Goulart, síndico profissional


Uma delas aconteceu há algum tempo, em um sábado de verão, no início da tarde. Comecei a receber várias reclamações de excesso de barulho no salão de festas. Liguei para o morador que havia alugado o espaço e expliquei que os vizinhos estavam incomodados com o som alto e a algazarra. Reforcei que, mesmo durante o dia, era preciso respeitar o sossego dos demais, e o relembrei das regras de uso do salão.    

A surpresa veio quando informei que pediria ao zelador para averiguar a situação. A pessoa, já bastante animada do outro lado da linha, respondeu que não havia necessidade, pois o zelador estava no salão. Estranhei, até que ela me enviou uma foto — custei a acreditar: o DJ da festa era o zelador! O funcionário que representava meus braços e meus olhos no condomínio estava ali, animando o ambiente com sua playlist. E, ainda por cima, em pleno horário de expediente, já que faltava cerca de uma hora para encerrar o turno.   

Fui pessoalmente ao condomínio resolver a situação. Além de notificar o dono da festa e o zelador, fiz meu “mea culpa” junto aos moradores que haviam reclamado, afinal, um funcionário estava envolvido. Depois, em conversa com o zelador, percebi que ele havia agido com inocência. Pouco antes do evento, comentou com os moradores sobre as músicas que tocariam, contou que fazia alguns trabalhos como DJ e acabou sendo convidado a “dar uma palhinha”. Ele aceitou acreditando que estava apenas ajudando. Ainda assim, deixei claro que sua postura fora totalmente inadequada.   

Outro caso curioso aconteceu há mais tempo, durante uma assembleia que estava descambando para a desordem. Precisávamos aprovar uma pauta que já vinha gerando conflitos entre os condôminos. O tema era a definição de um modelo de guarda- corpos a ser implantado nas janelas, mas nenhuma das propostas agradava a todos. Quando satisfazia um grupo, desagradava outro, e vice-versa. Não conseguíamos avançar na votação, pois tanto eu quanto a administradora éramos interrompidos a todo instante.  

Comentei com um conselheiro que aquela assembleia “iria longe” e brinquei dizendo que uma pizza cairia bem, já que eu nem havia jantado. Ele me sugeriu: “aqui do lado tem uma pizzaria, pede umas cinco”. Acatei a ideia, mas não abri escolha de sabores para ninguém, pois seria outro motivo de discórdia. Quando as pizzas chegaram, perguntei se alguém aceitava um pedaço. Aos poucos, os condôminos foram se aproximando da mesa e se servindo. No fim das contas, acredito que todos estavam ranzinzas de fome, porque, depois de comerem, conseguimos chegar a um consenso sobre os guarda-corpos.”


“Observo muitas situações em que pessoas que se mudam para condomínios demoram a perceber que existem regras em um ambiente coletivo.  

Fabiana Santos, síndica profissional


A dificuldade de compreender que ocupam um espaço em comunidade provoca acontecimentos incomuns, como quando um carro acessou o primeiro portão do condomínio, a mulher saiu brava, e desceu a pé para a garagem. O marido, então, simplesmente abandonou o veículo na rampa, com a chave no contato e foi atrás dela. Com isso, nenhum carro entrava ou saía do condomínio. Uma fila de veículos foi se formando na rua. Jamais permito que funcionários dirijam ou manobrem carros de terceiros, mas neste dia foi preciso que um deles conduzisse o veículo até a garagem para evitar o caos. Quanto ao autor da “façanha”, foi multado, até porque já acumulava advertências por estacionar fora da vaga.

Em outro condomínio, com várias unidades de pouco mais de 100 m², em fase de implantação, deparei-me com a falta de noção de uma família ao alugar o salão de festas. O pai reservou o espaço como se fosse para o aniversário do filho. Na noite da festa, ele não participou, deixando o menor de idade como anfitrião. Até aí, tudo bem. Mas, algum tempo depois, a portaria me avisou sobre uma grande confusão na calçada do edifício. A lotação máxima do salão já havia sido atingida, mas as pessoas não paravam de chegar. E mais: exigiam entrar, alegando que haviam comprado ingressos. Enquanto isso, o rapaz dizia ter direito de receber seus convidados. Chamamos o pai, esclarecemos que condomínio não é lugar de comércio, tampouco bar ou boate. Para encerrar a bagunça, também foi necessário chamar a polícia. A unidade foi multada e impedida de reservar o salão por um ano.   

Nesse mesmo condomínio, uma criança pequena foi “abandonada” na piscina de bolinhas da brinquedoteca, espaço acessado por sistema de reconhecimento facial. Fomos informados, identificamos a unidade, mas a mãe não se encontrava no local nem atendia ao celular. Levamos a garotinha para a administração e improvisamos um assento forrado com papel-toalha, pois ela estava com a fralda suja. Depois, a mãe apareceu procurando-a, muito assustada. Tinha ido à feira-livre, próxima ao condomínio.”   

Depoimentos concedidos a Isabel Ribeiro


Matéria publicada na edição 316 out/25 da Revista Direcional Condomínios

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