Há crianças hiperativas ou soltas demais nas áreas comuns, e agora?

Falar de crianças hiperativas ou soltas demais nas áreas comuns dos condomínios nos remete a reflexões profundas sobre as diversas mudanças que a sociedade apresenta na atualidade.

Vários são os aspectos envolvidos com a questão, incluindo desde as diferenças claras entre os quadros de hiperatividade e do chamado TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), até a pergunta se “queremos crianças ativas com limites ou sem limites”?

O assunto é muito extenso, por isso vamos destacar alguns pontos. Em primeiro lugar, o TDAH representa um transtorno neurobiológico, de ordem genética de longa duração, persistindo por toda a vida, com início na infância e comprometendo o funcionamento da pessoa em vários setores da sua vida. Ele se caracteriza por três grupos de alterações: hiperatividade, impulsividade e desatenção.

Já a hiperatividade por si é o aumento da atividade motora. A pessoa hiperativa é inquieta, está quase sempre em movimento. É a criança que se levanta constantemente na sala de aula, mexe com todo mundo, como se estivesse ligada no 220V. Raramente consegue ficar sentada, mas se é obrigada a fazê- -lo, revira-se o tempo todo, mexe pés e mãos constantemente. Apresenta dificuldade com brincadeiras em que tenha que ficar quieta; ao contrário, está sempre correndo, pulando, indo a lugares perigosos.

Mas hiperatividade não significa necessariamente TDAH, ela pode estar ligada a diferentes tipos de transtornos ou, ainda, ser confundida com agitações de crianças que não têm limites! Ao se analisar as relações familiares na atualidade, onde pai e mãe trabalham fora e muitas crianças acabam sobrecarregadas com diversas atividades durante a semana, sob os cuidados de terceiros, como babás, escolas em período integral etc., observamos seu desgaste físico e mental, o que gera, assim, uma distância afetiva e física em relação às figuras parentais.

Nos condomínios residenciais, já observei crianças correndo e andando de bicicleta, skate e patins em vias impróprias, destinadas à circulação de automóveis ou motos, gritando constantemente e perturbando moradores, enquanto os pais alegam estar ocupados com outros compromissos. Esses não são casos de hiperatividade ou mesmo de um transtorno como o TDAH, senão de falta de noções básicas de limites e obediência às regras, não somente àquelas do condomínio, como de respeito aos demais moradores.

É importante esclarecer que muitas crianças estão sendo avaliadas por profissionais da saúde nas áreas médica e psiquiátrica com quadro de TDAH, sem avaliação prévia por parte de um psicólogo. Nos últimos anos, houve um aumento de mais de 400% na prescrição de Ritalina, por exemplo, como forma de “controlar” os comportamentos das crianças e adolescentes. Será que é para tanto? Existem crianças com TDAH? Sim, não podemos desconsiderar. Mas também há crianças e adolescentes cujos pais têm dificuldades de manter limites e ordem dentro da rotina dos filhos, de não conseguir conversar e até de algumas situações de agressão física ou verbal. São crianças e adolescentes que poderão ter sérios problemas no futuro escolar, profissional, social, entre outros, além de apresentar demora em seu amadurecimento.

Para os síndicos que já enfrentam ou venham a se deparar com problemas relacionados a esses transtornos de comportamentos de crianças e adolescentes, é importante ter noções de psicologia e de comportamento humano como forma de saber abordar tanto os pais quanto os jovens, visto o grau de dificuldade que existe no trato com as pessoas. Acredito que a ajuda de um profissional, através de palestras, informativos dentro dos condomínios, tanto para os pais quanto para os síndicos, possa lhes dar subsídios para a solução dos diversos problemas dentro do ambiente condominial.

Matéria publicada na edição – 216 – set/16 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Nelson Luiz Raspes

    Psicólogo com formação em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). É especializado em Capacitação em Dependência Química pela Universidade de Santa Catarina. Atuou durante quinze anos junto ao Centro de Tratamento Bezerra de Menezes.

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