Eliseu de Oliveira, 47 anos: carreira em ascensão no nicho de condomínios populares

Síndico profissional Eliseu de Oliveira

“Sou síndico profissional há 15 anos. Atuo em um nicho popular de moradia, onde o grande desafio é fazer um bom trabalho com uma arrecadação mensal mais enxuta – nos prédios da Cohab que administro, a média é de R$ 5.800,00 para mantê-los funcionando. Consigo “trabalhar no azul” mesmo com baixos recursos e, na medida do possível, procuro levar aos condomínios propostas para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Frequento muitos eventos do setor em busca de boas soluções, pois são construções com mais de 40 anos e com muitas demandas.   

É engraçado que, nesses eventos, muitos se referem a mim como o “síndico da barba”. Esse detalhe virou uma “marca registrada” e surgiu há oito anos, quando fiz cirurgia bariátrica e perdi muito peso. Eu mal me reconhecia no espelho e encontrei na barba uma maneira de preencher o rosto – fiz as pazes com minha imagem. A bariátrica me deu energia para brincar com meu filho Davi e trouxe ainda mais disposição para percorrer os condomínios.   

Fui uma criança gordinha e feliz! Um dos pontos altos foi a amizade com meu pai. Durante a infância dos primeiros filhos, ele era mais sério e vivia para o trabalho. Trabalhando como mestre de obras, deu um teto à família, em Diadema, no ABC, e teve casas de aluguel. O que o tornou mais doce e presente na vida dos filhos foi perder a filha caçula em um acidente. Eu nasci no ano seguinte e fui recebido com uma explosão de afeto. Dois anos depois, nos mudamos para São Simão, na região de Ribeirão Preto, porque Diadema vivia tempos de muita violência.   

No interior, conforme fui crescendo, adorava ir às obras depois da escola para ajudar meu pai. Uma das minhas tarefas era entregar ferramentas a ele quando estivesse no alto da escada. Hoje, quando estou nos condomínios, não posso ver um prestador de serviço sobre uma escada que já ofereço ajuda, porque isso me remete à infância. Com meu pai, pude desenvolver um olhar apurado para supervisionar obras – também sei quando um fornecedor tenta vender ao condomínio material além do necessário.   

Voltamos para Diadema quando a violência estava um pouco mais controlada. Ainda assim, perdi pessoas queridas que não estavam no mundo do crime, mas se encontravam na hora e no lugar errados quando houve um tiroteio. O exemplo de força e união dos meus pais, que jamais discutiram na frente dos filhos e que estão juntos até hoje, foi decisivo para manter a família a salvo de más influências.  

Meu pai continuou no setor da construção, mas abriu uma pizzaria para tocarmos em família. Aprendi demais com essa experiência. Com 13, 14 anos, eu já cuidava do caixa, do orçamento, das compras e do pagamento de funcionários. Só encerramos o negócio quando meu irmão pizzaiolo e eu, formados em colégio técnico, decidimos desbravar outros mares.   

Fui admitido em uma vaga técnica de operador de telemarketing na Vivo, onde atuei por 16 anos, e conheci a Sarah, com quem me casei em 2009. Moramos inicialmente em Diadema, em uma casa que eu havia comprado, mas depois nos mudamos para o apartamento dela na Cohab I, em Artur Alvim, na zona leste de São Paulo. Eu queria ficar mais perto do meu segundo trabalho, uma perfumaria que eu tinha em sociedade com minha sogra, na entrada do condomínio. Eu trabalhava na loja durante o dia e, de madrugada, na Vivo.   

Por causa desse comércio, me tornei muito conhecido dos moradores, que me sugeriram me candidatar a síndico do condomínio, pois temiam que se concretizassem rumores da contratação de uma síndica profissional suspeita de má gestão. Dessa forma, aceitei a missão e me vi síndico do condomínio com um caixa de R$ 450,00. Mal assumi, o portão quebrou, o que consumiu R$ 380,00. Restaram apenas R$ 70,00 para iniciar meu trabalho. Permaneci mais de uma década na gestão e entreguei o condomínio com R$ 70 mil em caixa. O que eu fiz? Identifiquei gargalos, otimizei recursos e revi a taxa condominial.   

Ainda lá atrás, quando o condomínio vizinho soube que a administração ia bem, me convidou para ser síndico, e o mesmo foi acontecendo com outros prédios. Cheguei a cuidar sozinho de 12 deles ao mesmo tempo. Como os prédios são parecidos, com 30 ou 40 unidades, pude replicar minha forma de atuação. Saí da Vivo, fechei a perfumaria, fiz cursos de sindicatura e faculdade de Administração de Empresas para entender sobre gestão e, depois, pós-graduação em Gestão de Equipe de Alta Performance.  

Ao contrário do que alguns possam pensar, o público da Cohab é bom pagador – a inadimplência chega a 5%. O desafio é aprovar obras! Existe uma minoria que opta por morar ali por causa do condomínio baixo, mas dentro de suas unidades vivem no luxo ou têm carros valiosos. Essas pessoas não se importam com o coletivo e são resistentes em aprovar manutenções ou melhorias. No outro extremo, há aquele morador para quem R$ 30 de rateio é pesado. É triste, mas é preciso convencê-lo de que, se determinada obra de caráter urgente não for executada, poderá prejudicar o único bem que ele possui. Aí ele entende que não há alternativa e cede.  

Há quatro anos, dei um upgrade na carreira. Me associei ao Antônio Tavares, síndico que atuava na mesma Cohab. Ele é um irmão que a vida condominial me deu. Juntos, conquistamos muitos condomínios menores, com até 20 unidades, recém-entregues, em bairros da zona leste como Penha, Vila Matilde e Itaquera. Mantivemos alguns condomínios antigos e entregamos outros, em especial aqueles em que a gestão não evoluía por causa do conselho. Não somos síndicos fantoche. Vejo que nossa empresa está pronta para absorver condomínios maiores, mas desde que não perca sua essência, que é continuar cuidando dos pequenos com dedicação.  

Uma das vantagens de condomínios menores é o tipo de comunicação. Eu sou adepto do olho no olho, e um edifício menor permite que eu convide o morador para conversar no salão de festas ou que suba à sua unidade – sempre acompanhado – para ver determinado problema. Se ele reclamou de um vazamento, mas este for de responsabilidade da própria unidade, eu transmito essa informação cercada de explicações claras e logo emendo que, mesmo assim, iremos auxiliá-lo para que consiga resolver a questão com brevidade. Se o vazamento estiver impactando outras unidades, falo pessoalmente com os responsáveis desses imóveis para que aquilo não gere tumultos. Jamais vou jogar um morador contra o outro. Acho que nós, síndicos, devemos ser portadores da paz.”  

Eliseu de Oliveira em depoimento a Isabel Ribeiro


Matéria publicada na edição 316 out/25 da Revista Direcional Condomínios

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