Eletricidade e os riscos de verão

Verão! Calor, chuvas, raios, mais calor, mais chuvas, mais raios, é assim todos os anos, não é mesmo? O clima parece que ficou louco, e talvez tenha ficado mesmo, mas como conviver com isso em segurança? Confira

Combatemos o calor intenso do verão com muita água ou bebida gelada, banho morno ou às vezes frio, ventiladores espalhados pela casa ou escritório – seja no teto, em cima de móveis ou no chão –, e um bom ar-condicionado. Mas o que a eletricidade tem a ver com isso? Ou melhor dizendo, como refere o título deste artigo, quais são os riscos elétricos na estação mais quente do ano? Vou tentar discorrer sobre eles de forma objetiva.

Sobre as soluções mencionadas para enfrentar o verão (água ou bebida gelada, ventilador, ar-condicionado e banho morno), absolutamente todas usam energia elétrica para transformar o calor externo em frio interno. A geladeira, o purificador de água e o aparelho de ar-condicionado usam mais ou menos o mesmo princípio: um compressor que comprime e expande um gás que, ao realizar essa mudança, gela o tubo transferindo o frio para fora, o qual em contato com a água ou o ar resfria o líquido ou o ambiente. Já o ventilador necessita de eletricidade para que o motor que move as pás movimente o ar causando um “vento” para refrescar o ambiente.

Edson Martinho é engenheiro eletricista, fundador e atual diretor-executivo da Abracopel

Pois bem, o primeiro risco consiste em choque elétrico, já que no caso de ventiladores, dependendo de onde estiverem, acabam sendo ligados à rede de energia elétrica por uma extensão, a qual muitas vezes fica solta pelo chão, no caminho por onde as pessoas passam, o que pode danificar a isolação da mesma, deixando os fios à mostra e acessíveis, e isso representa um perigo principalmente às crianças.

Para se ter uma ideia da seriedade dos riscos do mau uso de extensões, vale destacar que em 2022, a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade) registrou 61 óbitos dessa natureza; sete envolvendo ventiladores. Outra situação arriscada é ligar ventiladores em dispositivos conhecidos como benjamins ou tomada Ts junto com outras cargas, o que pode gerar sobrecarga e princípio de incêndio. Ainda em 2022, foram contabilizados 105 incêndios originados em ventiladores/ares-condicionados, com 17 óbitos.

Em síntese, para prevenir acidentes, a dica é não fazer uso de extensões que ficam soltas pelo chão, evitar usar benjamins e ter em mente que esses acessórios, apesar de serem de baixa potência, ficam ligados durante muito tempo e se a instalação elétrica ou a extensão e o benjamin não forem compatíveis, existem riscos.

“Antes de permitir aparelhos de ar-condicionado, contrate uma empresa de engenharia para fazer o levantamento de cargas e laudo de conformidade das instalações elétricas. Dê preferência a profissionais que usem um analisador de energia, no mínimo, por sete dias.”

(Aulim Rodrigues da Silva, engenheiro eletricista, QTA Engenharia)

O mesmo se aplica aos purificadores de água e geladeiras. Utensílios com potência maior precisam de circuitos que tenham disponibilidade para a carga instalada. Se conectados em régua de tomadas, com outros aparelhos, pode haver sobrecarga, causando princípio de incêndio.

O outro componente para minimizar o calor é o aparelho de ar-condicionado. Esse dispositivo tem duas condições perigosas. A primeira é a capacidade da instalação em receber essa carga, que é muito maior do que a do ventilador, e é relevante mencionar que o equipamento ficará um bom tempo ligado. Mesmo que seja um modelo split com tecnologia inverter, você ainda terá uma potência entre 1100 e 2000 Watts (por aparelho) que será consumida por horas (cerca de 6h). Nesse caso, é preciso verificar se a instalação da sua casa, prédio ou comércio foi projetada para tal. Além dessa “capacidade” de potência, é necessário checar se a instalação elétrica está ok, se cada aparelho tem um circuito exclusivo e se os componentes usados para fazer a ligação do(s) Ar(es)- condicionado(s) são realmente de boa qualidade.

É preciso ter cuidado com fios e cabos de má qualidade, pois estão sendo vendidos no mercado como cabos que atendem às normas, no entanto muitos não possuem o selo do Inmetro e colocam em risco sua instalação e a sua família ou patrimônio. Lembrando sempre que, se tratando de instalações elétricas de ar-condicionado e ventilador de teto, que não são ligados em uma tomada convencional, é necessário que se contrate um profissional qualificado e atualizado para executar o serviço.

“É crucial assegurar que os equipamentos de SPDA estejam plenamente operacionais durante o verão, dada a elevada incidência de tempestades e descargas atmosféricas nessa estação, visando garantir proteção eficaz das instalações contra danos elétricos.”

(Henrique Amaro, engenheiro eletricista, Total Elétrica)

Quanto aos recursos de enfrentamento do calor, incluí no início do texto o banho morno ou frio. Riscos envolvendo o chuveiro elétrico existem mesmo com o aparelho desligado. A ação de desligar o chuveiro ou mudar a temperatura só pode ocorrer com a torneira fechada. Mas lembre-se que quando você desliga a chave no chuveiro, ainda existe energia chegando até ele, então não toque em qualquer parte dele para não sofrer um choque elétrico. Vale ressaltar que durante tempestades com raios não se aconselha tomar banho.

As descargas atmosféricas (raios e trovões) são fenômenos muito comuns no verão e há medidas contra situações de riscos que não podem ser desconsideradas.

  • Se estiver em ambiente aberto e ocorrerem raios, corra para se abrigar em uma edificação (prédio ou casa), nunca embaixo de árvores ou quiosques pequenos, tampouco em guarda-sol ou barraca;
  • Se não tiver nenhuma edificação por perto, pode se abrigar dentro de um carro, pois o mesmo oferece uma barreira contra campos elétricos e magnéticos e vai protegê-lo (a);
  • Na sua edificação, verifique se há estudo de elétrica para instalação de SPDA (Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas), que envolve proteção da edificação (por meio de para-raios) e de queima da própria instalação elétrica (por meio de MPS, blindagem contra surtos). Mesmo que sua casa não precise do para-raios, ela irá precisar dos DPS (Dispositivos de Proteção contra Surtos) para evitar danos em equipamentos eletrônicos.
  • No caso de prédios, a instalação do SPDA é imprescindível e deve ser feita de acordo com a NBR 5419; integridade e eficácia do sistema pedem avaliação frequente.

Para finalizar, vimos que riscos de choque elétrico, sobrecarga e incêndios podem aumentar no verão. Previna-se. Revise sua instalação elétrica pelo menos a cada cinco anos, e mantenha tudo de acordo as normas técnicas.

“Sejam novas ou antigas, as edificações podem apresentar problemas nas instalações elétricas, por isso é preciso fazer manutenção preventiva, com vistoria técnica e reaperto nos componentes, a fim de evitar maus contatos e curtos-circuitos nos quadros elétricos.”

(Elvis Lima, eletrotécnico, Merlini Engenharia)


Matéria publicada na edição 297 fev/24 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).