O morador apronta, e o gestor precisa acalmar os ânimos; confira os relatos a seguir

Alex Macauba
Síndico profissional
Alguns moradores ainda pensam que o síndico tem de dar um jeito em tudo — até mesmo em situações que só dizem respeito à vida pessoal.
Administro um condomínio na região do Grande ABC onde duas moradoras arrumavam muita confusão. Uma vivia com os pais em uma torre; a outra, com o marido e o filho, na outra torre. No início, elas eram amicíssimas; as famílias também se davam bem e confraternizavam nas áreas comuns.
A amizade acabou quando uma saiu com o marido da outra. Daí começaram as brigas. A pessoa traída chutou a porta da unidade da ex-amiga, riscou o carro, furou pneus…
Demos advertências e multas para tentar restabelecer a ordem, mas orientei a moradora que era vítima dos ataques a procurar a polícia, pois o condomínio não tinha como garantir sua integridade física.
Um dia, eu estava auxiliando o manutencista na área externa, e segurava ferramentas quando uma dessas moradoras parou para conversar conosco. Nisso, percebi a adversária vindo em nossa direção. Levei rapidamente a que estava conversando para dentro da torre, pois queria que pegasse o elevador, mas a outra chegou depressa — e começaram a se agredir. E eu, no meio da briga, segurando as duas… tomando chutes de ambos os lados! Aí, ergui o braço para contê-las, e o alicate que eu segurava caiu na minha cabeça e fez um corte. Ao mesmo tempo, uma delas tirou da bolsa um dispositivo de choque para defesa pessoal e foi para cima da outra. Adivinha só quem levou o choque? Pois é! Por sorte, logo se mudaram do condomínio.
Em outro condomínio, muito tempo atrás, havia uma moradora daquelas bem difíceis de lidar. Na época em que os filhos eram menores, ela brigava com outras crianças se achasse que tinham feito algo contra os filhos dela. Anos mais tarde, soubemos que ela ficava descontrolada quando não tomava direito a medicação psiquiátrica. Os filhos foram embora, o marido também. E ela passou a inventar motivos para ir, tarde da noite, à casa dos vizinhos. Bastava ver alguma luz acesa que tocava a campainha em busca de uma chave de fenda para abrir a porta ‘porque tinha ficado trancada para fora’ ou de ajuda porque estava ‘passando mal’.
Às vezes, essa moradora cismava que estavam roubando a internet dela e saía mexendo na fiação da torre inteira. Outras vezes, imaginava que havia vazamento de gás e desligava os registros hidráulicos do condomínio, achando que eram de gás.
Chovia reclamação de moradores sem água pela manhã. Precisei intimar e notificar a família: ela não tinha condições de ficar sozinha, e estava tirando o sossego do condomínio — e, por tabela, o deste síndico aqui.”

Vanilda de Carvalho
Síndica profissional
A impaciência e a falta de empatia dos moradores criam situações que exigem demais do síndico e dos funcionários.
Eu noto que os porteiros vivem sob muita tensão por causa do aumento de encomendas feitas por aplicativos. Às vezes, mal receberam os produtos e já há morador cobrando por eles de forma agressiva.
No caso de delivery de comida, ainda há quem pense que o entregador é um serviçal que deve ir até sua unidade. Imagine, numa sexta-feira, de 20 a 30 estranhos transitando de uma só vez no condomínio para entregar pizzas e lanches. Temos muitos entregadores honestos, é claro, mas também existe o chamado “crime de oportunidade”. A própria segurança dos moradores pode ser comprometida.
Dois anos atrás, ao lado de uma colega com quem eu administrava um condomínio de classe média alta, vivi um pesadelo por causa da intransigência de um único morador. Essa pessoa foi até o portão para retirar seu pedido, mas exigiu que o entregador adentrasse a eclusa para realizar a entrega. O motoboy, com receio de ter a moto — que era emprestada — roubada, preferiu ficar na calçada, junto ao passa-volumes do portão da rua.
O morador não se conformou com a recusa, foi até o entregador e o agrediu. Outros motoboys filmaram a ação e compartilharam com colegas. No dia seguinte, soubemos que, à noite, a categoria faria um protesto em frente ao condomínio. Colocamos uma faixa grande, em local visível, esclarecendo que o condomínio não compactuava com agressões, mas, acreditem, o morador envolvido reclamou, dizendo que a administração deveria ficar do lado dele. Reforçamos a segurança privada e informamos a polícia, que nos deu suporte nas proximidades do condomínio, para o caso de a manifestação se tornar violenta.
Os motoboys foram chegando — de repente, havia mais de 300 deles. Gritavam, soltavam rojões e esmurravam o portão principal, de ferro. Do lado de dentro, moradores desceram, e juntos formamos barreiras. O que nos separava dos motoboys era o gradil de vidro, e eu temia que eles o quebrassem e invadissem o condomínio atrás do tal morador, pois, de alguma forma, já haviam descoberto em qual unidade ele morava. Após uma hora de muita apreensão, o grupo se dispersou, com a promessa de voltar mais tarde, quando os restaurantes e pizzarias fechassem, reunindo mais colegas — somando, no total, mil entregadores.”
Demos plantão no condomínio durante toda a madrugada. Felizmente, não voltaram!”
Depoimentos concedidos a Isabel Ribeiro
Matéria publicada na edição 314 ago/25 da Revista Direcional Condomínios
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