Água: causas inimagináveis por trás do consumo elevado

 

 

Renato Luiz Moreira é engenheiro e consultor técnico condominial

Foto Almir Almeida

O alto consumo de água em áreas comuns e vazamentos invisíveis são grandes vilões das contas condominiais. Em um condomínio novo, me deparei com a seguinte situação: aumento expressivo de consumo, na ordem de 20% a 30%, sem causa aparente. Ao analisar o projeto hidráulico, observei que havia uma tubulação enterrada no jardim para rega com água de chuva, cujo reservatório era reabastecido indiretamente pela água da concessionária e o sistema de pressurização funcionava direto, mesmo sem haver consumo. Esse problema oculto havia rendido meses de prejuízo acumulado.

Fontes comuns de vazamentos são tubos pressurizados que se rompem por estarem ligados a bombas que ligam e desligam com muita frequência e devido à alta pressão, tipicamente causada por superdimensionamento. A solução é investir em bombas melhor dimensionadas, prevenindo o liga e desliga constante. Em tubulações enterradas, qualquer movimentação do solo por falha na compactação pode rompê-las. Fique de olho.

Para o consumo geral em torneiras o melhor são os dispositivos de fechamento automático de boa qualidade. Vistoria em caixas acopladas com frequência ajudam a evitar falhas dos mecanismos. Mas se na área comum é difícil encontrar a origem de alto consumo, quando se trata dos apartamentos a causa é invisível. Uma das fontes é a pressão.

Andares com maior pressão de água tem maior propensão a maiores vazões em

Andares com maior pressão de água têm maior propensão a apresentar maiores vazões em chuveiros, pias, tanques e lavatórios. Testei mais de 100 chuveiros em um mesmo condomínio. Os resultados apontaram vazões de 9,5 até 23,5 litros por minuto, uma variação de 147% de um apartamento para outro, sendo que quase 90% dos chuveiros eram do mesmo modelo e apresentavam vazões muito diferentes. O motivo da diferença é a pressão. Na cozinha, as torneiras surpreenderam negativamente: 44% apresentaram vazão acima de 8 litros por minuto e quase metade passou dos 10 litros por minuto, valor superior ao de vários chuveiros.

Uma das ações nesse condomínio foi a troca das válvulas redutoras de pressão, que estavam deterioradas por falha na manutenção. O resultado imediato foi uma redução da ordem de 20% no consumo dos apartamentos, cerca de R$ 5.800,00 em setembro de 2023. Eu não esperava um percentual tão significativo, mas o resultado foi coerente, pois, em alguns andares, havia o dobro da pressão-limite estabelecida em norma. O condomínio convivia com a situação havia pelo menos seis anos, desperdiçando dinheiro. Fica o questionamento: será que é alto o investimento em uma consultoria hidráulica especializada? Façam as contas.

Deixo aqui algumas dicas técnicas que podem ser úteis:

  1. Síndicos, tenham sempre em mente auditar o projeto e a instalação em busca da origem de falhas;
  2. Primeira lei do uso racional: conforto e economia são pontos opostos de uma mesma linha. É preciso optar;
  3. Restritores de vazão (pequenos anéis que controlam a quantidade de saída de água) são ótimos, mas cuidado: restritores para chuveiros e torneiras são diferentes. Então, não erre e escolha aqueles originais ou próprios para cada uso;
  4. Uma restrição muito grande pode deixá-lo frustrado com o chuveiro. Há kits com vários restritores (disponíveis no mercado) para teste. Se não der certo, busque um chuveiro com vazão mais baixa — e, ainda assim, pode ser necessário usar o restritor;
  5. Torneiras de pia com monocomando possuem passagens pequenas. Fale com a assistência técnica do fabricante sobre restritores;
  6. Não deixe a torneira aberta à toa e evite o acúmulo de água e louça na pia. Isso espalha gordura, dificulta a limpeza e consome mais água;
  7. Cada minuto a menos no banho representa menos custo. Se for com aquecedor a gás, você economiza em dobro: água e gás.

E não se esqueçam de que uma hidráulica saudável é fundamental para o sucesso no uso racional.

“É recomendável que o condomínio sempre opte por empresas
que atuem com foco em inovação e qualidade, e que, assim, possam
oferecer soluções em hidráulica predial que garantam eficiência,
segurança e durabilidade ao serviço executado.”
(Mário S. Ferro, gerente comercial, Enginstal)

“Economize água — um recurso finito que o ser humano ainda
não conseguiu criar.”
(Mauro Imoto, proprietário, Shop Service)

Matéria publicada na edição-312-jun/25 da Revista Direcional Condomínios

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