Em tempos de Inteligência Artificial, a grande contribuição contra invasões em condomínios não vem apenas de sistemas e máquinas, mas da identificação de padrões de comportamento humano. “Existem barreiras tecnológicas e físicas para dificultar o acesso de criminosos, mas é preciso estar atento tanto ao comportamento do condomínio quanto ao da criminalidade”, alerta Leandro Santos, consultor em segurança condominial.
Egresso do setor tecnológico, Leandro afirma que a IA trouxe novos benefícios à área da segurança e aprimorou recursos já existentes — como alertar a portaria sobre situações incomuns, por exemplo: a presença de alguém em áreas onde, após determinado horário, não deveria haver circulação, ou ainda quando uma pessoa caminha pela calçada em velocidade acima de 4 a 5 km/h. Segundo ele, a alta tecnologia auxilia, porém o aspecto comportamental pesa muito na segurança.
Teste de invasão

Um caso clássico é o do morador que, sem possibilidade de cadastro biométrico, passa a utilizar a tag para abrir o portão. “Imagine se ele começa a alardear entre vizinhos que é mais fácil usar a tag, incentivando-os a solicitar o dispositivo? Esse comportamento é equivocado, pois vai contra o padrão de segurança do condomínio”, observa. Ele acrescenta: “O uso da tag demanda atenção redobrada do porteiro, já que pode ser clonada. Quanto menos pessoas utilizarem esse recurso, mais precisa será a conferência pelo funcionário, especialmente porque hoje a portaria é multifuncional. Moradores precisam ter mais consciência sobre suas ações”.
“Segurança é tecnologia somada à atenção humana. Condomínios devem ficar atentos a golpes de falsos estudantes, moradores ou prestadores. Portaria e condôminos precisam entender que a primeira barreira de proteção é a desconfiança cautelosa.”
(Albert Dourado, sócio-fundador da Pinots Segurança Eletrônica)
A evolução dos sistemas de acesso, como os leitores faciais, trouxe mais agilidade e segurança, mas não eliminou totalmente riscos, como o chamado “efeito carona” ou a possibilidade de porteiros serem enganados. A engenharia social do crime, objeto de estudo de Leandro, explora a propensão das pessoas a caírem em golpes. “Engenharia social é a arte de ludibriar. O termo vem da informática, quando empresas de antivírus, por exemplo, passaram a contratar profissionais para testar invasões em seus servidores e avaliar o nível de segurança do sistema”, explica.
Em suas consultorias, Leandro utiliza atores que recorrem a táticas comportamentais para testes de segurança – em cada 10 residenciais, sua equipe consegue entrar em seis. “O teste serve para mostrar aos condomínios que o processo está equivocado e também evidencia como criminosos se valem de indução psicológica, já que não se apresentam com vendas nos olhos nem com camisetas listradas como nos gibis”, ressalta. O vestuário adequado ao perfil do condomínio, a lábia e a postura — seja doce ou agressiva — compõem a encenação perfeita para confundir porteiros, seguranças e até moradores. “Às vezes, um jovem simula conversar ao celular com a tia, dizendo que ‘voltou porque esqueceu a mochila’, e induz uma moradora a deixá-lo entrar junto quando abre o portão”, ilustra Leandro. Em outro caso, um senhor ‘cansado’, carregando um saco de pão pela manhã, pode transmitir ao porteiro a ideia de que precisa apenas entrar para tomar café.
“Segurança condominial eficaz une tecnologia, monitoramento e manutenção para proteger moradores e patrimônio.”
(Rodrigo Barreto Castagna, gerente, Premium Service)
Outro perfil comum é o do sujeito que chega irritado, e que não pode ser incomodado com triagens do condomínio. Nessas situações, porteiros podem recear conflitos com moradores e acabam cedendo, descumprindo procedimentos de acesso. “Existem prédios que conseguem barrar invasões porque, normalmente, o síndico e o conselho dão suporte para que a portaria cumpra corretamente os protocolos. Sem a coparticipação do condomínio, sempre haverá falhas na segurança”, conclui Leandro.

Agradecimento ao entrevistado
Leandro Santos, consultor em segurança
Matéria publicada na edição 316 out/25 da Revista Direcional Condomínios
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