Confira relatos de síndicos sobre pessoas ou
situações que causaram surpresa
“Síndico precisa ser diplomata, detetive ou até ‘padre’ em casos atípicos, pois é melhor compreender os fatos do que partir diretamente para a multa.

Maurício Jovino,
síndico profissional
Lidamos com pessoas, e precisamos apurar a veracidade das reclamações, identificar infratores e conversar sobre queixas, mesmo aquelas que nos deixam constrangidos, como as que envolvem ‘barulhos de casal’. Em um condomínio que administrei muitos anos atrás, os moradores começaram a reclamar com frequência de uma unidade onde o ‘namoro’ pegava fogo por volta das 20 horas. Diziam que não se sentiam à vontade para registrar o assunto no livro de ocorrências, mas exigiam providências.
O morador era alguém com quem eu conversava ao final de assembleias, uma pessoa bacana, o que me ajudou a introduzir a questão. Ele ouviu com atenção e disse tratar-se de algum engano, pois vivia sozinho. Em seguida, fez uma longa pausa, procurando algum sentido naquilo. De súbito, entendeu o que se passava e me explicou que chegava muito cansado do trabalho, colocava um filme no DVD e cochilava no sofá. Mostrou-me até a coleção de filmes para adultos e desculpou-se pela situação embaraçosa. No íntimo, achei graça, lembrando que, no condomínio, comentava-se que o sujeito era um garanhão; porém, nada daquilo sequer era real.
Outro acontecimento inusitado se deu em um condomínio de classe média, ao lado de um terreno baldio murado, mas com mato crescido. Os moradores tinham receio de que ali houvesse um potencial criadouro para o mosquito da dengue. Procurei o proprietário do imóvel que, ao providenciar a limpeza do local, me chamou e mostrou sacos e mais sacos de lixo, que só poderiam ter sido jogados por alguém do condomínio. Pus um funcionário ‘de campana’ à noite, que identificou a unidade de onde eram atirados dois, três sacos de uma só vez.

Até então, eu imaginava que isso fosse coisa de um sujeito grosseiro, morador de um dos andares mais altos, mas me enganei. O problema vinha da unidade localizada abaixo do apartamento dele, que pertencia a uma idosa que morava sozinha, uma senhora muito cordial. Através das imagens da câmera próxima à lixeira, constatamos que ela nunca depositava seu lixo, e assim fechamos o caso. Ela negou a infração, mas, em um fim de semana em que o filho a visitou, conversamos com ele, que admitiu que a mãe tinha mesmo esse costume e que ela não via nada de mais nisso. O inacreditável é que a tal senhora não errava um arremesso! Não fosse o episódio do terreno baldio, talvez nunca soubéssemos do descarte inadequado.”
“Já administrei condomínios-clube, de interesse social, de alto padrão — e todos são como um Kinder Ovo: você nunca sabe o que vai encontrar ali dentro.

Jamil Santos,
síndico profissional
O caso mais estapafúrdio com que me deparei foi quando assumi a gestão de um condomínio com amplos apartamentos na Bela Vista. A atmosfera era tensa. Uma das unidades havia sido alugada para um europeu que, espertamente, instalou divisórias de drywall, criando vários dormitórios para sublocação, semelhante ao que se faz em construções antigas e espaçosas na Europa. Ele alugou cada ambiente por um valor acima do praticado no mercado. A obra só foi executada porque absolutamente ninguém se atentou às normas da ABNT. Mas, enfim, o que parecia ser uma reforma convencional só teve sua real finalidade descoberta quando se percebeu haver mais pessoas vivendo em um único apartamento do que no prédio inteiro, o que gerou enorme desconforto entre os demais moradores, havendo necessidade de entrarmos com uma ação judicial para que o europeu e seus inquilinos deixassem o imóvel.
Em outro condomínio, tomei conhecimento de um tipo diferente de ‘aluguel’. Certa vez, um condômino me telefonou para contar que sua unidade, vazia e à venda, estava servindo de motel. Eu sabia que a chave ficava na portaria; o que eu não sabia era que um dos porteiros, aparentemente muito responsável, ‘alugava’ o imóvel para um jovem morador levar sua namorada — o que ficou evidente após a análise das imagens das câmeras de segurança. Tudo corria bem até que, uma noite, o condômino visitou o local e flagrou o casal em sua unidade.
E por falar em jovens, em um prédio menor, um adolescente levou a namoradinha para ‘namorar’ na garagem, dentro do carro da família. A certa altura, o alarme disparou. Afobado, o garoto tentou conter o barulho e ligou o carro, que acabou batendo no veículo da frente, acionando também o alarme deste. Para completar, a iluminação automática da garagem acendeu. Os moradores desceram assustados, imaginando o pior, e se depararam com o casalzinho seminu e em pânico, que achou que ‘namorar’ no escurinho da garagem era uma boa ideia.”
Depoimentos concedidos a Isabel Ribeiro
Matéria publicada na edição-313-jul/25 da Revista Direcional Condomínios
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.
Autor
-
Jornalista apaixonada desde sempre por revistas, por gente, pelas boas histórias, e, nos últimos anos, seduzida pelo instigante universo condominial.